terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sina

Não sei se sou pequena demais para o mundo
Ou se o mundo é pequeno demais para mim.
A verdade é que sinto forte lá no fundo,
Uma dor tamanha que parece não ter fim.

Dói quando o coração pulsa, quando inspiro.
Quando sinto o ar invadindo meus pulmões, até sair.
Quase sufoco, mas quando finalmente expiro,
Posso sentir dos olhos uma lágrima cair.

Ela vem carregada de desejos, sentimentos,
De incerteza, do cansaço da espera, de dor.
Chego a questionar-me em determinados momentos
Porque é que tem que doer tanto sentir amor?

Não sei se tenho controle sobre o que sinto
Ou se o que sinto tem controle sobre mim.
Se eu disser que sempre controlo, minto
Mas também não sou tão controlada assim.

Sei que só uma coisa pode me libertar
E fazer que essa dor desaloje de uma vez de mim
Só se você pudesse comigo estar,
E por fim essa dor teria fim, só assim.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A queda do herói.

E lá está ele, em seu costumeiro lugar de soberania. Elevado ao mais alto nível, onde eu mesma o coloquei. E de repente, com uma simples atitude, com apenas uma frase; ele despenca. Cai por terra, súbita e abruptamente, me fazendo comer a poeira que se ergue. O meu chão some, o ar me falta, meu coração acelera, a angústia me consome. Nesse extato momento, vejo o filme da minha vida passando em flashes alucinantes em minha cabeça, então vejo claramente as cenas que me fizeram colocá-lo em meu pedestal. Então voltando bruscamente para a realidade, sinto o ar gélido que toma meu estômago, sinto uma parte minha sendo arrancada e um vazio inexplicavelmente doloroso. E é como se bem ali, diante daquela cena, eu pudesse ver o pedestal do meu herói em pedaços... E olhar cada partícula, me faz sentir uma nova facada, um novo soco em minha face. Então saio de cena, sem rumo, em pânico com a situação e com a clara sensação de solidão. Talvez essa seja uma sensação que sempre me acompanhara, mas nunca nessa intensidade. Dessa vez é como se mais nada nem ninguém me restasse, como se eu estivesse em uma situação de perigo, sabendo que não tenho com quem contar. Porém sinto ao mesmo tempo coisas novas e boas aflorando em meu ser. É um misto de sentimentos extremamente doloroso, mas que com o passar do tempo, me fará crescer e perceber que seres, são humanos; que cometem erros e são tão falhos e vulneráveis quanto eu, você, quanto todos nós. E que na realidade, talvez nenhum desses seres mereça ocupar o pedestal, de quem quer que seja, pura e simplesmente por não demonstrar o lado humano do ser. Hoje, não tenho mais herói, encaro uma nova realidade que não passa do efeito colateral de uma dose cavalar de maturidade, liberdade e autonomia.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Assinado: Coração.

Meu querido e estimado Carlos.

Primeiramente gostaria de agradecer-lhe pelo belo cartão postal que me enviou. Ter a certeza de que estás bem, depois de todo esse tempo, é muito reconfortante. Tenho que ser-lhe bem sincera pelo fato de não achar tão reconfortante assim, saber do país onde se encontra instalado novamente. Não. Não se trata de ingratidão, mas se existe uma coisa da qual eu não sinto falta alguma é de meu antigo país tropical, ou melhor, do clima do mesmo. O calor era absurdamente intenso, ainda mais com a evolução que o aquecimento global sofreu nos meus últimos anos de estadia. Enfim, admito achar a neve, agasalhos e o frio bem mais estimulantes. Gosto até de me olhar no espelho e perceber a cor pálida de minha pele tomando um tom rosa, quase avermelhado devido ao intenso frio que faz aqui. Em contrapartida, tenho que admitir que nem o frio tem esquentado esse meu coração que anda gélido de tanta saudade das pessoas que aí deixei. Às vezes me pego rindo sozinha, recordando de todas as traquinagens cometidas por nós desde a infância e sinto até uma breve dor no peito, um aperto, chega a dar nó na garganta... tamanha é a falta que sinto de você e dos momentos que passamos. Mas gostaria de deixar-te claro que cada sorriso, cada lágrima, todas as lembranças, todas elas, sem exceção, permanecem vivas, intactas e eternizadas, não somente em fotos, mas em um lugar onde não poderão estragar, desbotar ou desaparecer. Em meu arquivo pessoal, em meu coração. Se ao longo dos anos em que permacemos juntos não agradeci à altura, gostaria de fazê-lo agora. Obrigada, muito obrigada! Por me proporcionar os mais intensos, bem-humorados, calorosos e inesquecíveis momentos de minha vida. Ao teu lado cresci, tornei-me criança novamente, sorri, chorei, e tudo colaborou muito para tornar-me o que sou hoje. Não me sai da memória a cena da minha despedida. Uma lágrima, um abraço, um beijo, o silêncio e o adeus. Naquele exato momento tive a certeza de que partiria, mas que deixaria um pedaço meu para trás, bem ali, contigo. E que comigo traria um pedaço teu, que me acompanharia para sempre onde quer que eu estivesse. Lembro-me que minha mãe sempre me dizia: Esse teu “excesso de liberdade” e essa mania de sempre querer mais, ainda vão te afastar daqui e de quem você ama. Ela estava certa. Confesso que o “ampliar horizontes” é uma coisa que sempre me fascinou, e no fundo tinha plena certeza de que enquanto eu não o fizesse, seria cobrada por mim mesma para o resto de minha vida, e que lá adiante, isso me impediria de realizar meus verdadeiros desejos. E como todo passo na vida exige sacrifícios, o sacrifício do meu maior passo foi deixar-te. Temia o fato de que você nunca mais desejasse entrar em contato comigo, mas agora que isso aconteceu, sinto-me aliviada, porém na obrigação de esclarecer-te determinadas questões que simplesmente decidi adiar anos atrás para amenizar o sofrimento de ambas as partes. Portanto meu querido, esteja certo de que ainda o amo, talvez bem mais agora. Como já dizia Arnaldo Jabor - Existe gente que precisa da ausência para querer a presença. – E é bem verdade. Finalizando, gostaria de pedir perdão se por acaso lhe causei algum desconforto com as palavras, mas nessa noite, a certa altura, meu coração tomou o lápis de minha mão - ainda trêmula após ler teu nome no verso do cartão - e escreveu-lhe esta carta.

Um beijo e um abraço, dos mais calorosos e com muita saudade.

PS: Caso queira fazer uma visita, eu e o frio estaremos de braços abertos para te receber

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Certo e errado, bom e ruim.

Certo é viver plenamente, intensamente, realizar, se entregar.
Errado é não dizer o que se pensa, poupar, calar, se limitar.
Bom é sair sem rumo, sentir-se livre, leve, flutuante, inconstante.
Ruim é a dor, dor de amor, dor da decepção, a dor que o medo causa.

Certo é olhar para trás e saber tirar proveito até das maiores tolices cometidas
Errado é amargurar, impedir, punir, desmotivar, desiludir.
Bom é se alegrar, sorrir, improvisar, cantar, animar, purificar.
Ruim é arrogância, mau humor, prepotência, intolerância.

Certo é ser verdadeiro, seguir sua intuição, seguir o coração.
Errado é dissimular, manipular, mentir, falsificar.
Bom é receber, amizade, cumplicidade, reciprocidade.
Ruim é sentir-se só, isolado, angustiado, atormentado.

Certo é desabafar, extravasar, libertar, brigar, desculpar.
Errado é guardar, prender, deixar passar, esquecer.
Bom é dia nublado, frio, livro, café, edredom, cobertor.
Ruim é calor, sol quente, suor, vapor, ardor, odor.

Certo é sentir.
Errado é fingir.
Bom é amar.
Ruim é se decepcionar.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A terceira pessoa do singular.

Criticar algo é difícil, falar de algo que se goste é fácil. Mas falar de alguém que já fez muito por ti, ou melhor, de alguém que lhe deu a vida é no mínimo suspeito.
Mas esse fato isolado, nem sempre fala por si só. Não dá para ser grata ou ter admiração por alguém que lhe deu a vida e só. Gratidão, admiração, amor, são sentimentos que são cultivados. Primeiro planta-se e com o passar do tempo colhe-se em doses cavalares e incondicionais, pelo menos é assim que deveria funcionar.
Então sem mais delongas, a pessoa a quem me refiro nesse texto, nada mais é do que ele, o homem que contribuiu de forma essencial para minha existência, meu pai.
Não tenho tantas, mas quero aqui fazer um relato das poucas lembranças que tenho da minha infância e o reflexo disso tudo no que sou hoje.
O que mais me marcou e o que continua me marcando até os dias de hoje sem sombras de dúvidas, não foram as nossas brincadeiras que por sinal eram sempre muito boas, mas sim nossas conversas, os seus conselhos, suas sábias palavras.
Lembro que bastava você fazer um simples relato de uma situação vivida para eu te encher de perguntas e prolongar a conversa por horas. Me pegava na maioria das vezes com as mãos apoiadas no queixo, dando toda atenção do mundo às suas palavras, o que não era exatamente atitude “normal” de uma criança. Mas o fato de eu nunca ter dado a atenção devida aos meus brinquedos e sim as conversas, talvez justifique essa minha “precocidade” em tudo. Enfim, via em você uma fonte de informações e tinha muita sede de tudo aquilo, por isso me encantava tanto. E hoje, quase 15 anos depois, me pego do mesmo modo, com todo encantamento e com mais sede ainda dessa “fonte do saber”, pois os assuntos que antes iam de experiências suas até conselhos para a vida, hoje se estendem de piadas, mais conselhos, até antroposofia ou radiestesia por exemplo. E ver que eu ainda tenho essa sede de todo conhecimento que você possui e que ainda fico, talvez bem mais agora, pasma vendo você falar sobre tudo que conhece, que ainda deito no seu colo só pra ganhar um cafuné, me deixa muito feliz. Ver a prevalência disso tudo, só me prova que você fez uma excelente plantação e que agora só está colhendo à devida altura.
Lembro das conversas com os amigos do colégio sobre os pais e que sempre que eu falava de você, inflava o peito, cheia de orgulho, porque para mim você sempre foi o melhor.
Quantas vezes vi você virando criança novamente só para me agradar... Lembro das vezes em que saíamos na rua de mãos dadas, pulando e assoviando os dois; essa era uma das várias faces que eu enxergava em você. Às vezes voltava a ser criança, muitas vezes era um amigo, mas a face que mais me enchia de orgulho era a de pai mesmo.
Vezes aquele pai que se me via fazendo coisa errada, me sentava e conversava por horas, explicava o certo e o errado e me aconselhava sempre; vezes aquele pai “leão”, que em qualquer situação de riso, colocava as garras de fora, pronto para proteger sua cria do perigo a qualquer custo. Essa sim, me proporcionava uma sensação de segurança e me fazia ter certeza de que com você nenhum mal poderia me atingir.
Mas até nisso você teve sabedoria e quando eu ainda era pequena, você me explicava de uma maneira simbólica que desde o começo me segurou firme pela mão e que caminhou junto comigo, mas que aos poucos, no decorrer da vida, iria segurar minha mão com menos força, pelos dedos, no dedo mindinho, até que um dia teria que soltar e eu teria que caminhar sozinha. E assim foi, aos quinze anos você "largou minha mão", deu minha liberdade, mas me deu também sua confiança e ainda me disse que estaria sempre por perto, pronto para ajudar em qualquer coisa que eu necessitasse. E hoje, mesmo com toda minha liberdade e maturidade, ainda assim, sempre te consulto em minhas decisões, sempre peço ajuda e sempre sou socorrida.
Portanto, nada do que eu diga poderá expressar minha gratidão por tudo que você fez e continua fazendo por mim. Afinal, foi você que me ensinou a dar os primeiros passos, a pronunciar as primeiras palavras, segurou firme minha mão durante a trajetória, sempre me deixando consciente de que eu escolheria meu próprio caminho. E graças a sua dedicação, hoje creio que escolhi o caminho certo para trilhar, pois tive sua vida como exemplo para mim. Você sempre esteve ao meu lado para tudo, apoiando minhas decisões, aconselhando quando foi necessário ou simplesmente dando colo quando mais precisei. Então só me resta dizer: - Muito obrigada! Pelos conselhos, pelos puxões de orelha, pelas palavras, pelo carinho, por sempre segurar a minha mão, por me apoiar, por me chamar de canto e falar: - Tô contigo! e até pela única chinelada que me deu na vida.
Muito obrigada por ser quem você é e por ter me tornado quem sou, pois grande parte do que sou hoje vem de você!
... E você sempre preocupado com “quem eu iria ser na vida”, acho que nunca se deu conta, de que tudo o que eu mais queria nessa vida, era ser como você!
Obrigada por tudo, EU TE AMO PAI.

domingo, 29 de agosto de 2010

Vamos juntos.

Venha comigo. Mostra-me tua parte sensível que anda perdida, oculta.
Traga-me a certeza de que por traz da tua rigidez existe um coração, que pulsa quente.
Que na verdade você tem tantas dúvidas e inseguranças quanto eu.
Que ao estender-te os braços, vulnerável você procura abrigo e refúgio nos meus.
Vem. Vamos juntos nos desfazer de nossos “mecanismos de defesa” e tentar viver...
Sem medo, sem proteção, sem se importar com o resto, sem pensar.
Vamos, despidos de toda culpa, usufruir toda liberdade existente e dos momentos mais prazerosos possíveis.
Viver intensa e verdadeiramente, simplesmente assim, na soma de um mais um.

Sonhei, senti.

A noite cai, inquieto-me, e logo pouso minha cabeça latente em meu travesseiro.
Observo meticulosamente cada centímetro do teto de meu quarto;
E encontro neles, particularidades estranhamente familiares.
Mergulho nas manchas, buracos, relevos inconstantes, nas marcas...
E é como se visse naquela superfície, um perfeito retrato de meu interior.
Apego-me a cada detalhe enquanto flutuo muito longe, pra onde meus pensamentos me levam. E por um instante, sinto aos poucos minha alma desalojar de meu corpo. E é como se através dela, eu possuísse o dom de voar.
Então vago por aí sem rumo, sentindo a liberdade tocar meu rosto, na forma de uma brisa suave que faz esvoaçar meus cabelos negros, que logo se confundem com a escuridão da noite, e sem perceber, entrego-me aos encantos e a estranha sensação de prazer causada pelo “toque” da liberdade, da brisa mais suave que já desfrutei em toda minha vida. E posso voar tão alto que quase toco as estrelas, e chego tão perto que posso até sentir teu calor queimando a palma curiosa de minha mão.
E quando finalmente a toco, num surto de medo, sinto-me despencar de tão alto que juro que posso sentir a temperatura gélida de meu ventre roubando-me o ar.
E quando finalmente volto a respirar, sinto minha alma novamente alojada, em meu corpo frágil, mortal.
Sonhei e posso jurar que senti.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Medo

Quanta petulância tens meu rapaz!
Que até nas madrugadas mais quentes me faz estremecer.
Que insiste em habitar nos meus sonhos, despertando o medo fugaz.
Que me faz voltar a realidade e pensar: Por que temer?

Por que consegue me afetar tanto menino?
Se tenho plena consciência do quanto sou inconstante.
Se em dias sinto meu coração tão frágil, pequenino,
outrora forte como rocha, grande feito um gigante.

Com medo eu fujo, corro, me escondo.
Dou desculpas absurdas, minto, até finjo estar doente.
Eu resisto, me afasto, até certo ponto,
então você vem, me invade, revira minha mente.

Me deixa vulnerável, frágil, amargurada
Porque leva consigo minha paz, minha estabilidade, meu sossego.
Questiono- me: Será que por alguém fui amaldiçoada?
Até quando me privarei por puro medo?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Noites Nostalgicas.

Nostalgicamente me recordo das noites em que sonhava...
Onde repousava minha cabeça sobre meu travesseiro
e nenhuma dúvida me assolava, nenhuma insegurança me fazia perder o sono.
E hoje, me pego acordada em plena madrugada
espantada com a intensidade das batidas do meu coração;
posso senti-las sem ao menos tocar meu peito.
Então me perco diante de minha incerteza, e é ela, justamente ela
que domina meus pensamentos e me impede de dar um passo a frente;
me deixando completamente estagnada,de mãos atadas, sem direção.
E a cada decisão não tomada, a cada situação não resolvida,
sinto-me imersa cada vez mais profundamente nesse infinito mar de dúvidas.
Acontece que a volta à superfície nem sempre é tão fácil...
Requer certos sacrifícios, e que certas decisões sejam tomadas.
Decisões essas que implicam diretamente no seu "eu", na sua essência,
e que fazem entrar em jogo, seu bem estar, seu futuro, sua felicidade.
Portanto vou adiando decisões, me afastando de situações,
sabotando a mim mesma, as minhas vontades, aos meus verdeiros desejos!
Assim sigo afogando-me, tentando encontrar onde não posso achar;
qualquer resquício de ar que seja capaz de mover meus pulmões, de me fazer respirar.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Esperança.

Se um dia me perguntassem o que ainda me faz querer viver,
sei bem qual seria minha resposta.
Eu diria:
- Moço...sou movida pela esperança, que teima em permanecer bem viva aqui dentro de mim.
Ela me faz crer, que um dia tudo vai melhorar.
Que eu vou ter paz, alegria, e que chorar, eu não precisarei mais.
Que o vazio dentro do meu peito, será fechado, lacrado. E que nos momentos de angustia, não precisarei mais puxar o ar bem fundo, até doer meus pulmões,
só por medo de sufocar.
Ela me faz crer, que todas as minhas feridas, um dia serão fechadas, cicatrizadas.
E que todas as minhas dores, um dia, não vão mais tomar conta de mim,
e que no lugar delas, terei muitos motivos para me alegrar, sorrir.
Agora se um dia me perguntassem se eu tenho certeza de que tudo isso vai acontecer...
Eu responderia: Moço, não tenho certeza não. Mas o dia em que eu desacreditar, perder a esperança... Esteja certo de que sobre isso, você nem vai poder me perguntar..